Um coração partido. Isso definia bem o estado de Lia. Ela morava sozinha na cidade de São Paulo por causa do trabalho e isso já fazia quatro anos, e há três anos havia se apaixonado e começado um namoro com um colega de trabalho chamado Pedro, mas ele não prestava. Havia traído Lia dezenas de vezes, e quando finalmente ela o pegou na cama com outra, o seu coração se partiu em milhares de pedaços. A pior parte é que todo mundo do trabalho sabia das traições dele, e isso fez com que ela se sentisse pior, achava que era burra e se sentiu traída por todos, e por causa desses motivos que ela decidiu tirar férias do seu trabalho como publicitária e voltar para a sua cidade natal, que era um interior lindo, mas muito pequeno e pouco conhecido. A sua casa do interior ficava muito afastada do local onde ocorria o comércio e todo o movimento daquela cidade pequena, e dessa forma ela poderia refletir sobre sua vida e curar as feridas do seu coração.
Lia iria voltar para a casa onde havia passado boa parte de sua infância, mas fazia muito tempo que não aparecia por lá. Sua mãe chamada Sofia morava sozinha nessa casa, desde o dia em que o pai de Lia havia morrido, e dessa forma sua mãe conduzia a casa e todos os negócios da família, que por sinal não eram poucos, além do mais, a família era bem rica e boa parte dos negócios da cidade pertenciam a eles.
A mãe de Lia esperava pela filha e imaginava como poderia confortar a sua menininha, e começava a ficar nervosa quando imaginava que poderia bater na porta a qualquer momento. Sofia sempre ia visitar a filha no centro urbano, mas Lia quase nunca aparecia na sua casa, no seu lar. E de repente o som temido ecoou pela casa. Havia alguém batendo de leve na porta pesada de madeira.
- Oi, mãe. – Disse Lia quando a mãe abriu a porta e com os braços abertos, Sofia falou:
- Minha querida, como é bom ter você aqui. – As duas se abraçaram, mas a conversa continuou:
- Também é bom estar aqui, mãe.
- Está na hora de você tirar essa carinha de tristeza. Vamos! Preparei o seu quarto, está tão lindo. Você vai ficar louca quando ver.
- Tenho certeza disso.
Lia caminhou com sua mãe até o quarto, onde tudo estava lindo. O quarto espaçoso estava pintado de lilás e as grandes janelas estavam cobertas com cortinas brancas de tecido fino, a cama era bem grande e ficava perto de uma das janelas, do lado esquerdo havia uma porta que levava ao banheiro e do lado havia um guarda-roupa embutido, estava tudo tão perfeito e sua mãe havia caprichado bem naquele quarto, e isso alegrava Lia.
- Esse é seu quarto, filhinha. Vou deixar você tomar um banho e descansar, só que mais tarde nós duas vamos sair.
- Não sei se quero sair.
- Mas você vai. Eu preciso resolver algumas coisinhas e quero que você dirija para mim, está bem?
- E eu tenho escolha?
- Não muitas. – Lia sorri para a mãe e fala:
- Obrigada pelo apoio, mãe.
- Eu sempre vou te apoiar, minha flor. Agora descanse.– Lia sorri e então a mãe sai, deixando ela sozinha com seus pensamentos.
Depois de um bom banho, Lia deitou na cama e se encolheu. As lembranças da traição ainda estavam tão fortes na sua cabeça, principalmente pelo fato de Pedro ter sido seu noivo, mas se pudesse ela apagaria tudo de uma só vez. Cansada daqueles pensamentos, ela se levantou e resolver caminhar pela casa a qual não ia fazia tempos. A casa era bem grande e ficava bem no centro de um grande terreno verde. Atrás da casa ficava um celeiro, um galinheiro, uma grande quantidade de árvores e vários homens e mulheres simpáticos trabalhavam por lá, do lado da casa havia um imenso lago. Quando Lia era pequena ela corria pelo cais e se jogava com tudo naquela água, e ela adorava aquela sensação, apesar de depois, a mãe brigar com ela por ter se molhado. Aquela lembrança lhe fez rir, e a vontade de se jogar no cais surgiu novamente e foi isso que ela fez, contou de um a três e no momento seguinte estava afundando no lago.
